segunda-feira, 13 de julho de 2009

Nos trilhos...


"Meu nome é Jorge... na verdade, não me lembro ao certo qual é o meu nome de batismo... deixei-o lá atrás, ficou com os anos já vividos e já não o avisto mais. Minha idade eu não sei e creio que não se trata de uma informação relevante neste momento de minha vida. Tenho poucas coisas... uma mochila surrada, algumas tralhas e objetos, a roupa que tenho no corpo e tudo aquilo que se propôs a caminhar comigo nessa empreitada que é viver.
Não tenho família, aliás a minha família é o mundo, os lugares que passo, as pessoas que conheço, aqueles que me ajudam, aliás, poucos são aqueles que se propõe me ajudar... cada dia que passo vejo as pessoas mais amargas, rudes e sempre com falta de tempo para os outros; mas isso não me importa é algo contornável, consigo conduzir essas situações "numa boa". Algumas pessoas já perguntaram pra onde vou e sinceramente não sei responder, na verdade essa informação não é importante pra mim. Chego a acreditar que nada que é importante para os outros é significativo pra mim e vice-versa, então procuro caminhar pelos trilhos.
Caminhar pelos trilhos é algo que todos deviam fazer (caso não tenham feito ainda), é uma experiência inovadora, capaz de proporcionar grandes aprendizados... agrega valores a vida do indivíduo e faz dele um ser melhor. Algumas pessoas podem dizer que caminhar pelos trilhos é seguir regras, nunca desviar do caminho, algo parametrizado, fechado, engessado; mal sabem elas que é o totalmente o inverso...
Estar sobre os trilhos é trilhar sobre um caminho sem fim, é ter possibilidades, é poder parar e continuar... é manter-se no seu ritmo. É desviar quando necessário, ir para frente ou voltar atrás e corrigir aquilo que foi feito, é caminhar sem rumo e sempre ter um horizonte de possibilidades na frente. Quando necessário você poderá criar novos caminhos, um trabalho árduo e difícil, mas recompensador... pelos trilhos você também poderá depois de muito tempo, voltar aos mesmos lugares que conheceu, rever pessoas e entender porque as pessoas e as coisas mudam com o tempo.
Para aqueles que não me conhecem, dirão que se trata de uma filosofia barata, encontrada em livros baratos de banca de jornal... outros podem dizer que trata-se de uma utopia de vida, pra mim pouco importa.
Sou um andarilho, um vagabundo, um ser humano, não busco realizações futuras, apenas vivo meu presente e deixo que os caminhos sejam determinados pelos trilhos que seguem a minha frente, tortuosos ou não, consigo visualizá-los e me guiar neles.
No meu caminho cheio de ilusão, ignorância alheia, reciprocidade, medos e anseios, apenas me permito seguir nos trilhos de intenções... um rumo que só terei caminhando passo a passo."

Leôncio Fernandes

sábado, 11 de julho de 2009

O frio da alma




"...o homem andava de um lado para o outro na rua. Cabelos bagunçados, andar bruto e um olhar desfigurado carregados em sua face. A ação do tempo era também algo significativo em seu rosto, as linhas de expressão denotavam sua idade avançada e o seu leve curvar de ombros o peso de toda uma vida carregada nas costas. Ninguém se atrevia a pará-lo e perguntar o que havia acontecido ou se podia ajudar, de fato, naquele momento não era o mais recomendável a ser feito...
A leve garoa e a brisa gelada insistiam em incomodar todos naquela manhã de inverno. Muitos dos que passaram apressados, sequer notaram a presença daquele indivíduo e os que notaram não deram a devida importância para o mesmo. O discurso "o problema não é meu" foi algo que vagou por muitos ali, afinal, nada podiam fazer. Eu também não podia, mas me vi parado, hipnotizado pela figura no mínimo exótica de alguém que insistia em chamar minha atenção.
A certa altura, me peguei a ser embalado pelo ritmo compassado de seus passos de um lado para outro, algo desconexo e sem significados para alguns, mas com grande amplitude e significância para mim. Estes mesmos passos, soavam como batidas ocas dentro de mim, misturando-se com os meus batimentos cardíacos e em dado momento fundindo-se em um só.
Queria desvendar aquele mistério, queria sentir as mesmas sensações que ele sentia, queria viver seu personagem e atuar naquela vida que não me pertencia, mas como, se agora nem mesmo a minha vida sentia ter a autonomia de mudar?
Vi-me perdido em tempo e espaço, era como se não existisse mais nada ao meu redor. Os ruídos dos automóveis, trens e transeuntes que passavam se perderam em outras dimensões e devaneios meus; estava perdido em entender o que se passava, comigo e com aquele ser. Podia ouvir o grito de desespero que ecoava por dentro de seus pulmões e se perdiam na imensidão de seu inconsciente. Foi quando, um som mais forte ecoou com seu baque no chão, interrompendo seu ritmo e cessando a cena. Estava morto. Todos agora pararam, mas ninguém quis acudi-lo. Olhavam insólitos, um misto de terror, indignação e medo. Alguns tentavam achar explicações e diagnosticar o fato, outros olhavam para o céu e clamavam ajuda de algum lugar que não viria. O fato é que ninguém tinha o direito de fazer isso... nem mesmo eu que observei seus últimos momentos de vida e as últimas angústias afloradas em sua face.
Foi então que me dei conta do quanto às pessoas tentam se apossar das outras para minimizar suas culpas ou mesmo amenizar seus anseios. Vi o quanto tentei me apossar daquela situação. A angústia não era dele, mas sim minha... pois ela revive agora em mim.
A brisa fina e gélida me atinge como uma navalha afiada, um tapa na cara. O vento arrasta pelo chão, meio as pernas das pessoas que se encontram ali paradas em volta do corpo, um jornal de ontem que carrega a manchete: 'Frio atinge paulistas na manhã de terça-feira'. Pior que o frio do tempo, é frio das almas, é a frieza das pessoas, esta sim é capaz de atingir em cheio, de interromper, de parar, de fazer morrer."

Leôncio Fernandes


terça-feira, 7 de julho de 2009

Quanto vale aquilo que você fala?


Quanto vale a sua palavra? Quanto vale aquilo que você fala? A maioria dirá que vale muito, que é o que se tem de mais valioso e o que preza em sua vida. Há quem diga que a palavra de um homem vale a sua honra e deve ser cumprida de acordo com aquilo que foi profetizado ou dito, mas me pego a questionar: será que na prática é dessa forma que acontece? Será que as pessoas agem exatamente de acordo com aquilo que dizem?
Infelizmente a resposta para estes questionamentos é "não". Nos dias de hoje é comum vermos as pessoas verbalizando situações e agindo de forma totalmente diferente se comparado com aquilo que foi dito.
A honra de um indivíduo ainda é colocada como algo intocável, pois é capaz de retratar à virtude do indivíduo, seu talento, sua coragem, suas boas ações e qualidades. Ter essa entidade alimentada é conquistar um sentimento de dignidade própria que leva o homem a procurar merecer a consideração geral; resumindo é o "brio" da pessoa, porém todos esses pontos não é mais sustentado pela verdade e ação, mas sim, pela mentira e falsidade.
Há uma dificuldade de sustentar as palavras com as ações. Essas atitudes quando surgem são geralmente evasivas, vazias e sem significado, chegando a soar como justificativa e não como comprometimento. As pessoas esqueceram que a palavra dita, gera expectativa fazendo com que o interlocutor fique na espera de um retorno e que a palavra não caia no esquecimento ou não seja cumprida.
Percebam que a todo instante venho falando de "valor(es)", e gostaria de dar atenção especial a esta palavra, pois trata-se da ação de fazer algo importante, estimável. O valor proporciona legitimidade e validade e é por isso que sempre ligamos a questão "valor" com a "palavra".
Neste momento, podemos mudar as perguntas e dizer: quanto daquilo que você fala, você cumpre com atitudes e comportamentos? O quanto você está empenhado nesse processo?
Chego a concluir que nos dias de hoje só a palavra, não tem mais valor. Somos um conjunto de ações que se somam e se completam. Somos os olhos que vêem, os ouvidos que escutam e os corpos que sentem e como todo conjunto (reunião das partes dum todo) devem estar juntas, do contrário de nada valerá aquilo que for dito.
A ausência de valor naquilo que você diz, reflete a falta de atitude que você tem. A falta de atitude, é a morte do ser, em corpo e alma.


Leôncio Fernandes

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Ter poder ou ser podre? Uma questão de escolha.


Para algumas pessoas pode soar como um trocadilho infame... no entanto vejo este "R" não só mudando o conceito das palavras; As vejo como a evidencia de como estas são ambíguas... não pela semelhança, mas pela indecisão e insegurança que nos remete. Ter poder muitas vezes não é uma questão de escolha, mas ser podre é de inteira responsabilidade do indivíduo (algo individual e controlável).
Quando falo de poder, me refiro a uma entidade que dota a pessoa de maiores e melhores possibilidades, sejam elas profissionais ou pessoais. O poder autoriza a pessoa a tomar e agir de forma diferenciada se comparado com a forma que atuava antes de tê-lo; dá direito, dá condições, fornece subsídios. Podemos dizer também que o poder faz com que as pessoas deleguem, mandem, exijam e dominem o próximo. Em alguns casos esse poder causa medo e coage as pessoas, limita e restringe as idéias e deixa cega a pessoa que tem ele nas mãos. Vejam que este "poder" possuí duas vertentes, onde é capaz de agregar valor e retirar das pessoas pensamentos e impressões... o poder utilizado de forma inadequada, faz com que o "R" mude de posição e se torne algo podre.
Se falarmos de ser "podre", podemos ter em mente algo que está ou se encontra em estado de decomposição, algo fétido, contaminado. Algo que seja moralmente repugnante e que faz com que todos que estão próximos se afastem ou o excluam. O ser podre pode advir de um poder sem parâmetros, sem métricas e inescrupuloso. É algo que venho pensando a alguns dias... Como ter poder ou ser podre é uma questão de escolha e como as pessoas geralmente se tornam podres por não saber administrar o poder.
Meu pai sempre me disse: "Quer conhecer as pessoas? Dote-as de poder e conhecerás como elas são". Foi umas das frases mais certas que já ouvi e se colocarmos esta em prática constataremos este fato.
Às vezes a imaturidade, a insegurança ou a falta de conhecimento podem acarretar essa inversão de papéis, acarretando estragos muitas vezes irreparáveis. Às vezes essa troca de papéis é opcional e inconsciente... atende apenas as vontades do princípio de prazer, é egoísta e gananciosa refletindo no princípio de realidade, onde as pessoas que estão em volta deste que possui o poder, sofrem as conseqüências.
A busca por este poder é tentar alcançar e obter o "falo", algo fantasioso, irreal e inatingível. Ter o poder não é alcançar o "falo", trata-se de uma sublimação, algo que em breve perderá sentido, e a partir daí haverá o descuido por parte do dotado de poder, fazendo com que ele estrague e se torne podre.
O poder foi representado por muito tempo pelos Cavaleiros Medievais, em suas figuras imponentes, suas armaduras e armas muito bem alinhadas, sempre se mostrando superiores em cima de seus cavalos. Hoje não são necessários todos estes acessórios; as pessoas distorcem o poder e o demonstram, sendo arrogantes, intolerantes, inconseqüentes... se tornam insólitas.
Ser onipotente é ter o poder absoluto. Não saber utilizar esse poder absoluto é ser podre... é ser pobre.

Leôncio Fernandes

domingo, 5 de julho de 2009

Um olhar além dos muros...


É interessante quando conseguimos olhar para dentro de nós, e ver o quanto somos limitados e censuradores de si mesmo. Muitas vezes os dogmas se tornam regentes de nossa vida, numa sinfonia muda e desconexa.
A voz que cala, a ação que não se concretiza, o olhar se perde em meio as possiblidades e tudo o que está ao nosso redor, passa despercebido... não possuí mais significando ou é significante para você.
Essa "cegueira involuntária", na verdade pode ser chamada de comodismo. Quantas vezes nos limitamos a reclamar e ficamos fadados a um destino ou situação que tratamos como única opção, quando na verdade não é? A opção ou o caminho mais fácil é sempre escolhido pelo indivíduo... advindo de uma tendenciosidade cognitiva (tendência auto-servidora) atribuindo fatores que nos protejam (que protejam o nosso "eu") fazendo com que nos percebam de forma positiva (através do olhar do outro)... isso nos exime muitas vezes de responsabilidade, uma sensação cômoda e uma satisfação de dever cumprido.
Essa busca incessante por uma satisfação denota a dificuldade que temos em enfrentar obstáculos, de desafiar, de tentar mudar, de buscar o novo e repaginar uma vida de costumes e hábitos retrógrados... aqui a "zona de conforto" dita as regras e define como será o final da história. E como se não bastasse, tudo isso faz com que desaprendamos alguns conceitos básicos de atitude, e reclamamos por ter perdido ou deixado que uma oportunidade passasse despercebida... escorrendo de suas mãos como areia fina.
Só sei que são escolhas e como qualquer uma destas, deve ser assumida, digerida e tolerada. As pessoas continuarão a reclamar, algumas coisas continuarão do mesmo jeito, mas o todo aqui não é importante, dou crédito as partes; são elas que individualmente farão a diferença... resumindo, o olhar para dentro, o corrigir, o modificar é individual, capaz de trazer resultados inacreditáveis.
Por isso eu digo, seja introspectivo, desenvolva o olhar para dentro de você e identifique os pontos a serem desenvolvidos e aprimorados; após coloque em ação e mude. É necessário que tenhamos um olhar além dos muros, que transpasse a barreira inconsciente, que transpasse a barreira insólita do comodismo, para que sejamos melhores com os outros e consigo mesmo.
Leôncio Fernandes

sábado, 4 de julho de 2009

Egocentrismo ou Egoísmo?


Etimologicamente falando, o egocentrismo e egoísmo estão ligados em seus significados análogos. Mas o ponto central dos meus devaneios é: aonde estes dois sujeitos tão conhecidos se separam como águas divisórias ou se fundem em um substrato de ganhos e perdas na vida dos indivíduos?
A idéia de que as pessoas estão perdendo a cada dia que passa "certos valores" de convívio social, seria no mínimo uma boa chamada para um debate, despertando interesse de muitos. Isso porque a necessidade de resgatar esses "valores" faz-se necessário para manutenção das boas relações sociais e repouso de possíveis conflitos, que atitudes fora de um padrão já conhecido pode causar nas pessoas. Mas ninguém se recorda ou é capaz relembrar, que esse egocentrismo é puramente a ação de um inconsciente individual (seu). Processo que cada um de nós possui e atribui pouca ou grande importância. Na maioria das vezes, o mérito dado a este inconsciente, ao egocentrismo que nasce dele é supérfluo, imaturo... algo que busca apenas uma satisfação que seja capaz de suprir essa necessidade do "eu".
Essa tentativa de buscar a satisfação ideal - algo inatingível e fantasioso - é puramente narcísico e inconsciente; deixa evidenciado a transmutação do egocentrismo inconsciente, para um egoísmo consciente. Algo muitas vezes sujo e assustador. É desleal, não considera os interesses alheios, capaz de esmagar e terminar com a existência de qualquer indivíduo ou sujeito que esteja na sua frente.
Essa atitude é algo identificado nas pessoas com quem lidamos diariamente, independente do grau de relacionamento; são atitudes que todos nós adotamos (eu/ você) em dados momentos, com o objetivo de atender uma necessidade narcísica e proteger aquilo que corre perigo instantâneo.
Mas que perigo é esse? O que me ameaça ou o que ameaça algo que é meu, a ponto de desenvolver e alimentar essa conduta? Qualquer coisa que nos desvie de um objeto ou objetivo é capaz de fazer com que esse "ser estranho" renasça dentro de nós e tenha vida própria (digo vida própria, pois muitas vezes, nem nós mesmos conseguiríamos explicar porque fomos capazes de ser tão egoístas frente a algumas situações e em outras não).

São resquícios de uma herança filogenética... algo que protege seus ideais ou idéias e destrói relações, pessoas, pensamentos... são sinais exteriorizados... são atitudes... é o "eu" atuando, vivendo, sentindo e fazendo as pessoas sentirem.

Leôncio Fernandes